terça-feira, 1 de março de 2011

(Livros) Resenha - O Livreiro de Cabul -por Simone



O livro O Livreiro de Cabul, da Editora Record, foi uma produção da jornalista norueguesa Asne Seierstad, que no ano de 2002, logo após a queda do regime talibã, viveu três meses com uma família afegã registrando uma visão do pais estando mergulhada em seu cotidiano e em sua cultura.
A autora em uma viagem ao Afeganistão, conhece o livreiro Sultan Khan, em Cabul. Nasce uma amizade entre os dois. Ela demonstra o desejo de escrever sobre a sociedade islâmica fundamentalista e é convidada a hospedar-se na casa do livreiro. É desse lugar, sob esse olhar que o livro é escrito, a autora teve o privilegio de transitar entre o universo feminino e masculino dessa sociedade.
Sultan Khan foi preso e torturado durante o regime comunista, dos mujahedin e dos talibãs. Sua livraria e parte de seus livros foram queimados, mas o livreiro ainda “alimentava o sonho de ver seu acervo de 10 mil livros sobre história e literatura afegã transformar-se no núcleo de uma nova Biblioteca Nacional”.


Cabul era uma cidade em reconstrução, vivendo um período pós guerra. A família de Sultan (duas mulheres, cinco filhas e parentes), tinha uma situação estável morando em uma casa de quatro cômodos. Sob uma burca a autora “pode observar relatos das rixas do clã; da exploração sexual das jovens viúvas que esperavam doações de alimentos das organizações de ajuda internacional; da adúltera sufocada com um travesseiro pelos três irmãos com a ordem da mãe; do exílio no Paquistão da primeira esposa de Sultan Khan, após um segundo casamento com uma moça de 16 anos; do filho adolescente do livreiro obrigado a trabalhar 12 horas por dia sem chances de estudar”.
Asne Seierstad apresenta uma narrativa que emociona, mostrando a rotina, a pobreza e as limitações impostas as mulheres e aos jovens do país. A autora retrata um protagonista que apesar de ser um homem de letras se mostra um ditador em relação a seus negócios e a sua família.
Nos cabe refletir sobre o peso do ser social na constituição de cada um de nós, sobre a influência da cultura da sociedade em que vivemos no nosso cotidiano. As pessoas que protagonizaram a produção de Asne Seierstad não questionaram acontecimentos que nos deixaram chocados, acreditavam que esses episódios, mesmo lhes trazendo dor e sofrimento eram naturais. Surge o questionamento de como será ver nossa sociedade ocidental, cristã, capitalista de fora dela? Como será que os “outros” nos veem?

Eu indico! Uma boa sugestão de leitura.

Simone Mariani





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